quinta-feira, 26 de julho de 2012

Neoliberalismo e burguesia no Brasil

A implantação do modelo capitalista neoliberal alterou as relações de classe e de poder existentes na sociedade brasileira.
O neoliberalismo desmontou o protecionismo típico do período desenvolvimentista e reduziu a já precária rede de direitos sociais herdada do populismo. As principais políticas que corporificaram esse desmonte foram a abertura comercial e financeira, a política de privatização, a redução dos direitos sociais e a desregulamentação do mercado de trabalho. Assim como essa política econômica e social expressa interesses de classe e de frações de classe numa dada correlação de política de forças, do mesmo modo, tal política interfere, numa ação de retorno, sobre a composição, o poder e os interesses das classes sociais em presença, bem como sobre as alianças, frentes e apoios com os quais cada classe e fração pode contar na luta por seus interesses. As mudanças nas relações de classe e de poder decorrem, antes de mais nada, dos processos econômicos e sociais induzidos pela política neoliberal. Apenas para ilustrar essa afirmação, lembraríamos que a abertura comercial e financeira reduziu o poder econômico e a influência política da burguesia industrial interna e, associada a outros elementos característicos do cenário dos anos 90, provocou, no campo das classes trabalhadoras, a redução e a desconcentração do segmento industrial do operariado brasileiro. Mas as mudanças nas relações de classe e de poder decorrem, também, de aspectos políticos e ideológicos associados ao neoliberalismo. A ascensão da ideologia do Estado mínimo, associada à política de ajuste fiscal, permitiu, no plano das classes dominantes, a expansão de uma poderosa e heterogênea burguesia ligada aos serviços de saúde, educação e demais áreas abandonadas pelo Estado e, no campo das classes trabalhadoras, dividiu politicamente os assalariados e confinou os trabalhadores do setor público numa posição de defensiva e de isolamento.
Neste texto, focalizaremos as relações da burguesia brasileira com o neoliberalismo, ou seja, examinaremos a configuração do bloco no poder neoliberal. O exame das relações desse bloco no poder com as classes trabalhadoras – relações que são muito mais diversificadas e complexas do que sugere a bibliografia corrente – fica, eventualmente, para uma próxima oportunidade. Mas vale a pena destacar que a caracterização do bloco no poder neoliberal é um elemento importante para definir uma tática correta para a luta dos trabalhadores na presente conjuntura brasileira.

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